quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Mar.

sea Pictures, Images and Photos

Arremata um fresco e antigo repartido mujo, assim pequeno entre dentes.
Tem medo, aquele jovem que anda trapezista numa falua.
Anda de passos largos, como se sofresse de excesso de confiança.
Embora queda a olhar em cima de ingratas águas passadas, que ficam a beira de seus ténis rotos.
Não consigo entender aquele adolescente aluado de olhos ministrados.
Areei olho e domingueiro já a dormir estava nos embarcadoiros.
É triste, a miudeza embarcada em poros forçados e lascados por águas paradas.
Ouve nada ou pouco do que o beijo do Sol lhe impõe ao olho.
Será que as manhãs o trazem? De onde virá o postule da vítrea, capataz dos seus lábios?
Rara vez em que lança pé fora do ancoradouro. Será que espera algo de entre a tez serena?
Sempre que passo já de crepúsculo pelos “seus” mares, que a maresia se dispersa em vaga lacrimosa.
Quem é o rapazote dos fraquejos? Nunca me olhei nos seus olhos, culpo o medo do nublado.
Pensador arrasta e aformoseia tempestas com uma arma impermeável.
Que te poderá fazer voltar costas ao mar? Rapazote nacarado do nada que viestes.
Será o frio que lhe cinzelou a cautela pelos trapos frios e rotineiros da manhã oceânica?
É inebriante como o tempo não o rodeia, como as tépidas areias não lhe aparentam dor.
Não o vejo descer uma ou outra rua frustrada de terra, apenas céu e azul-alaranjado.
Nem fundões o matracam fora da sua altiva orbe vincada no ciclo dial.
Ardor que este deita, cheiroso a uma trupe melancólica de vinte e quatro baionetas cansadas.
Não entendo o conhecimento daquele pequeno marujo, velho e de inesgotável louvor.
Como maltrapilha a fome, o negro, a pálida viagem contra-maré, imaginária.
Como de porto torpe se aguenta rés aos magros trovões das noites.
Não entendo a força da miudeza largada ao Deus-dará.
Desconheço-o de todo, mas firma-me a oriunda esperança de algo que provavelmente não virá. Admiro, apraz, o escuro pateta da mocidade.
Onde a força calada de gritar para este se murmura a sós para mim mesmo:
“Chuta o mar para trás, pousa o sal do espaço infindo e olha para as terras, miúdo.”

Enxagua-se no pouco tempo seco, abraçado por demasiado tempo ao longe do mar.
Envereda não mais longe que a areia húmida, encarrila não mais perto que o empedrado.
Numa estranha portela esquecida algures no areal, põe-se ao lado do oceano.
Num vortex que artimanha o paradoxo, existe.
Conquanto, me parece que este pequeno ente se cansa de pouco em pouco da tarde alastrada.
Cheira-me que o seu fanatismo pelos tons frios da palete que se estende ínfima nevou.
De manhãzinha já não sinto o seu excêntrico bolchevismo perante o azul.
Sinto que o freio no trovão está para enferrujar, forte.
Arriscar desequilibrar o quebra-gelo que mantém a nostalgia presa a âncora do menino?
Tenho terror de gelar ao tocar nas farpelas molhadas que cobrem a pele do passado, do seu presente deslustrado.
Tenho medo da sua calma aparente, do seu nervosismo crescente, do seu intuindo agoirento d’algo que ao invés do Sol, não se erguerá.
O seu nervosismo teima as ondas a crescer, perspectiva-se no cinzento véu da penumbra que tapa a luz.
Está para chegar o que não vem de encontro a ele, esta para chegar o assento final junto da doidice.
Curiosa, esta praia desprovida de quaisquer chapéus-de-sol, completamente inviolada por cigarrilhas desbocadas por algum fumador.
Será por isso que se prende ao branco desta pequena praia escondida pelo grande pontão?
Será que simplesmente se consolou de procurar outra perfeição balaustrada pela água?
De última passagem por esta praia, antes de voltar às terras, não vi a miudeza junto do seu aporto.
Parei, atónito, esguichei olhares rasantes por toda a pequena longitude do calçado; onde está o pequeno sofrido?
Mirei de longe, estava, pouco longe da espuma aguazil, ajoelhado diante o enorme vazio mareante.
De braços estendidos adjunto ao corpo, tal ode ao céu, encontrava-se o jovem alheio.

De derradeiro galanteio soberbo, na última bonita, lusa maré, vitimou o Sol, praguejou os céus.
Patrono, afastou nébulas e névoas, olhou de chispe para o arneiro e ceifou a dor.
Do mais puro final, inclinou-se junto aos réus, fraquejou por fim, salpicou de sal todo ancoradoiro.
Louvei ganas e cheguei-me, a medo questionei:
“Que se passa rapaz?”
De olhos lunares, cheios de insípida vida respondeu:
“O Sol corre dos céus, e todas as noites beija o mar. Desejo o horizonte senhor.”
Perplexo e fascinado, perguntei o porquê ao menino encapuçado pela neblina ao qual respondeu baixinho, sussurrando mais ao vento do que a mim:
“O Sol sempre trai o olhar jus a distância, o mar é incerto como o escondido. “
“Mas o horizonte imaginário, irreal, sempre será fiel aos olhos.”

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Silêncio

5 Pictures, Images and Photos

Não temo nada agora, pois temo nada, nada te teme, nada nos teme.
Nós não tememos nada.
Estamos agora in vitro, em falácias faladas pelo teu silêncio.
Estamos exasperados por peças musicais incompletas.
“Vai-te foder!”

Cada silêncio e olhar que se sombreiam são nossos, puros.
Cada pranto teu, desenfreado que a minha força não consegue travar.
Todo o fumo vermelho de cigarros que o desejo impede de acabar.

“Whatever.”
Cativa-me na tua singela ignorância. Cativa-me em mentiras que não me importo em cair.
Captura-me no teu sopro, que uiva por aí.
Oiço-o.
Ouves o meu quando te suspiro na orelha?

“Vai pó caralho!”
Não me parto, não grito. Apenas o silêncio reina em mundos variáveis por nós.
Não choro mais.
Perco estribeiras vocabulares, pois não é justo descrever aquilo que sinto por ti.
Não quero. Não me é possível.
Amo-te Maria.